terça-feira, 9 de outubro de 2007

DIA DAS CRIANÇAS? ME POUPA !


As imagens e a propaganda de brinquedos enchem as telas da televisão e os nossos ouvidos nas rádios, nos berros do camelôs e na mídia em geral. Crianças lindas, bem nutridas, olhos felizes e na maioria brancas nos induzem a comprar e a presentear num dia que faz a felicidade dos comerciantes e de uma percentagem pequena da população brasileira, das classes mais abastadas onde o brinquedo tomou o lugar das brincadeiras, prisioneiras que são dentro das casas e dos condomínios.
As outras numa prisão menos confortável são os filhos da maioria do nosso povo que ganha mal, porcamente um salário mínimo e muitas vezes nem isso,. Essas não podem fazer parte desse consumo desenfreado e caro. Essa maioria não pode nem sair de casa vivendo em comunidades onde a bala come solta e onde a morte é uma constante na vida delas. Não será um brinquedo amorfo de plástico que lhes vai restituir a liberdade, o direito de ir e vir, secar suas lágrimas quase diárias, suas dores de cabeça ou de estômago, frutos de traumas constantes nas suas vidas desde o nascimento e, se nada mudar, até a sua morte. As leis que valem para a minoria não são conhecidas nas zonas de guerra que foram pouco a pouco, durante décadas, se implantando nas cidades, nos bairros, nas comunidades e nas ruas do Brasil com a conivência dos poderes públicos que sem saber o que fazer diante de um quadro tão patético, partem para o confronto armado como trogloditas, com táticas ultrapassadas no combate à violência dentro de um país democrático em pleno século 21.
No Brasil inteiro o quadro é o mesmo. Já temos pelo menos três gerações que foram marcadas pela violência constante desde a tomada de cidades e de bairros pelas máfias da droga e do comércio de armas, máfias de bandidos e mais recentemente de milícias oriundas da própria policia. E as crianças crescendo nesse ambiente violento e pérfido que envolve vários segmentos existentes e tolerados nesse país.
Não é isso que as crianças brasileiras necessitam para o seu pleno desenvolvimento. Querem sim, governos que disponham verbas para que o estatuto da Criança e do adolescente seja realmente implementado para todas as crianças, uma vez que ainda não saiu do papel. Querem que as instituições brasileiras funcionem para todos independente da classe ou da cor. Querem viver em paz e poder brincar, soltar pipa, pular amarelinha, brincar de pique sem ter medo de serem atingidas por uma bala perdida, serem assaltadas, serem mortas sem razão no meio da rua e dentro de casa.
O Estado brasileiro têm roubado o direito das crianças de serem crianças, de brincar e de viver. A mãe do menino João Hélio e tantas outras mães que perderam seus filhos sabem bem disso. Esse é o pior crime que um governo pode cometer, sendo negligente, não tendo políticas públicas adequadas,não punindo a corrupção dentro e fora dele, compactuando com políticas nocivas ao futuro do país e permitindo que a classe política se deteriore e coloque em risco as nossas instituições democráticas. É uma vergonha, é indecente como estamos deixando o Brasil para as próximas gerações. Onde está a nossa indignação? A violência nos fere, a todos sem exceção.
A questão é saber como queremos que nossos filhos sejam educados e se queremos perpetuar esse estado caótico em que se encontram nossas instituições. Uma reflexão no porquê perdemos o nosso sentido de justiça, de ética, de moral. É triste constatar que aqui morrem mais jovens e crianças assassinadas em casa, no trânsito, nas ruas, mais do que nos países em guerra.
Todos os dias deveriam ser dia da criança mas já que existe um dia específico deveria ser um dia de reflexão para todas as famílias brasileiras e não só um dia onde o brinquedo é a parte mais importante.

Yvonne Bezerra de Mello
Coordenadora do projeto Uerê

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