domingo, 6 de janeiro de 2008

VISITA AO LIXÃO- UMA EXPERIÊNCIA EXTRAPLANETÁRIA...





Ontem dia 05/01/07 fui fazer a última expedição de Natal, fui com meu pai (que se vestiu de papai noel de novo ha ha ha, mesmo sendo fora da época mas p todos os efeitos ele caiu do trenó) ao lixão de Búzios, que não tinha nada de estilo, pelo contrário. Um lugar ermo, no fim do mundo literalmente, no meio de uma estrada sem fim, de pó, terra batida e pedras, muitas pedras.

Nos perdemos 3x e para completar no caminho não tinha uma alma viva para pedir informação. Mas chegamos lá. Seguimos a trilha da sujeira, do lixo por toda parte...Sem dúvidas nos levaria ao lixo mor. E lá estava o lixão. Uma experiência única. DE todos os lugares que já fui, países, cidades, paraísos perdidos, aquele era sem dúvidas um outro planeta. Montanhas de lixo, nuvens de moscas varejeiras e claro um batalhão de urubus por todos os lados. E o pior, pessoas, crianças andando sobre as montanhas de lixo, à procura de sustento, trabalho, sobre vida.
Meu pai já estava vestido de papai noel qdo chegamos lá- antes de chegar parei na estrada para ele se vestir. Tínhamos no carro doações (brinquedos e bonecas lindas da Dra Lucia Frota) e compras de carrinhos e etc que ele fez no Mercadão de madureira.

Chegando ao lixão, passando com cuidado pelo lixo para não ter a má sorte de furar o pneu numa garrafa quebrada, procurávamos um senhor da Prefeitura que fica lá monitorando tudo, com quem meu pai falou no telefone e disse que iria novamente esse ano- já foi papai noel lá ano passado) e as crianças ao verem o papai noel saiam correndo do lixo, ou melhor, do trabalho. Em pouco tempo era uma criançada toda atrás da gente. Foi qdo chegamos ao meio do lixão e vi uma cena única. Se o inferno existe, definitivamente tem essa visão. Vi ao fundo, a terra do sem fim, montanhas de lixo e uma densa fumaça (lixo queimando) e uns 3 cavalos negros...Se meus olhos fossem uma câmera teria essa foto aqui agora. Mas a guardei mto bem na memória. Ao passo de ser uma cena árida e sem vida tinha sua poesia...era em preto e branco, estática e melacólica...

Fizemos a volta e chegamos ao tal senhor, e as crianças atrás. Foi qdo o inferno se fez presente. Achava que depois daquela cena não sentira maior dissabor. Mas eis que abrimos o carro e vi o que realmente é um lixão: Fedor, calor e muitas, mas muitas moscas. E a pobreza. Vi crianças lindas, não só negras como de costume no meio medicante mas umas loirinhas. E aquela cena tão marcante dos canaviais do nordeste onde crianças também são boias frias. Vi uma que era a típica boia fria: Uma camiseta na cabeça para fazer sombra na lateral do rosro e um boné velho e encardido . Essa era a única que estava de calça e botas de borracha. Todas estavam somente de chinelos, assim como os adultos. E todos muito, mas muiito sujos e suados.
Vi que o canavial do nordeste com seus pobres boiafrias estão mais pertos da gente, do que poderíamos imaginar...que o Brasil literalmente é aki.

E essas pessoas do lixão já estão acostumadas com as irritantes e grudentas moscas varejeiras. Um minuto ali já me deixou estressada com tanta mosca em cima de mim, era ficar o tempo todo batendo a mão nos ombros para aliviar a aflição daquele toque nojento desses insetos da putrefação. O cheiro não era pior do que as moscas. Mas todos ali estavam acostumados. Era o trabalho deles.

Embora já esteja acostumada ao contato com os irmãos miseráveis, e estava feliz em estar ali dando o nosso calor humano aquelas crianças de realidade tão dura e sofrida, só pensava em sair dali, entrar no carro (o que não tirou muito o problema pois entraram junto dezenas de moscas!!!) até pegarmos a estrada ainda tinha uma ou outra e eu doida para fechar os vidros e ligar o ar condicionado. Pelo menos sabia que iria dar um mergulho da praia Azeda para com a água do mar tirar aaquela impressão das moscas.

Até que a entrega foi organizada, conseguimos fazer uma fila de meninos e de meninas e graças a Deus deu para todo mundo. Eram quase 50 crianças. Pequenininhs tinham poucas, a maioria entre 7 e 10 anos. E impressionante como a "boneca" ainda é o brinquedo que as meninas mais pedem. Os carrinhos tb fizeram sucesso. As bonecas que levei da doação da Dra Lucia fizeram um sucesso danado. Coloquei cada coisa num saco transparente com lacinho e qdo uma em particular recebeu uma Magali de pano com a carinha tda nova, e embrulhada nesse saco transparente- brinquedo novo!!! Coisas que uma geração abastarda e sortuda enjoa fácil para outras torna-se o brinquedo eterno que psssará de geração em geração, que mal podem brincar para fazê-lo conservar melhor - contrastes do nosso país. Essa menininha negra que recebeu a boneca Magali, novinha, mal conteve a cara de felicidade, foi tda alegria e dentes, um sorriso que jamais esquecerei! Vi em seus olhinhos o que é a alegria de uma criança literalmente, maior satisfação impossível...Pena que alguns não saem tão felizes pois nunca se pode satisfazer a todos né. Mas pelo menos me fiz feliz. Eu e meu pai. Eu saí de lá td contente...Já sabíamos que aquela doação era importante pois aquelas crianças nunca são lembradas pelo papai noel. E ele chegou, mesmo 10 dias mais tarde, o que para elas não fez a menor diferença.

Entrar naquele mundo a parte era uma curiosidade, e foi uma satisfação. Mas não tenho mais estrutura para isso. Queria ter uma ONG para levá-las de lá, trabalhar com elas. Mas entrar naquele mundo denovo é algo que sinto tristeza, pq sei que nada mudará. O lixo será sempre o mesmo, o lixão e as pessoas que lá "vivem". Bate-me uma revolta em saber que td poderia ser diferente e não saber lidar com isso gera essa angústia que prefiro evitar.

Aqui no meu prédio não tem coleta seletiva de vidro e plástico mole e tenho tido preguiça em levá-los na Comlurb. Mas agora não. Saber que posso fazer a diferença num lixão, deixa-me aliviada. Se aquilo nunca vai mudar, pelo menos pode diminuir nem que seja com a minha pequena ajuda e de outras pessoas que sei que fazem sua parte- logo de grão em grão quem sabe um dia isso não muda né. Já separo o lixo reciclável (plástico duro, alumínio, papel limpo e óleo de cozinha) e agora o vidro que invés de colocar na lixeira verde própria que tenho em casa vai direto para meu carro para qdo eu passar pela Comlurb, deixá-lo.

Se td mundo fizesse sua parte seria menos lixo nos lixões e menos pessoas vivendo da sujeira....

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